sobre o guardar e o fluir [ou sobre o dinheiro e a coragem de viver]

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[escrito em 20 de dezembro de 2011]

Dinheiro.
Papel ou metal impresso, padronizado, que garante a troca, sem outro vínculo necessário entre pessoas…

Trabalho… ou melhor, utilizo meu tempo para realizar um serviço ou uma função para alguém.

Não necessariamente há amizade entre essas pessoas. O interesse é a troca. A troca do serviço, do tempo, da aplicação de um conhecimento por papéis, metais, ou simplesmente números na conta bancária, que podem, depois, me garantir trocas de objetos ou serviços que me interessam.

Nesse caso, o relacionamento entre as pessoas não está em primeiro plano, mas sim a satisfação de suas necessidades imediatas ou o acúmulo de dinheiro, ou números, que poderão futuramente ser investidos em alguma coisa (objeto, serviço ou entretenimento) que custe mais…

E quanto ao momento do agora?

Se meu tempo é em maior parte dedicado a executar uma tarefa para alguém que muitas vezes nem conheço, outra parte dedicada a mim, em que momento me dedico ao bem-comum, aos outros, à rede, à comunidade, ao mundo?

É provável que se tivéssemos mais confiança em nossas capacidades de sobrevivência, no poder da ajuda dos outros, teríamos, ou seríamos, mais corajosos. Corajosos o suficiente para assumirmos nossa importância no ciclo de vida do mundo… para nos entregarmos a cada instante e viver de maneira mais coerente com as nossas necessidades diárias.

Assim, não precisaríamos acumular dinheiro (que poderia chamar de “poder de troca”) pois através de uma atividade que executaríamos com vontade e, por isso mesmo, bem, através da nossa doação de tempo e da concretização de algo que é necessário também aos nossos vizinhos, naturalmente seríamos recompensados com o que eles podem nos oferecer de melhor a cada dia…

Talvez, tecendo esse raciocínio agora, o uso do dinheiro, do acúmulo de números em conta, ou de objetos como são as cédulas, os cartões e as moedas, seja reflexo do medo de viver a vida. Pois a vida é instável por natureza. Não é cem por cento previsível, nem nosso caminho é totalmente conhecido.

O dinheiro ou a economia… o acúmulo de um “poder de troca” é uma tentativa de garantir possibilidades de inserção numa comunidade… por exemplo, se estou com a pele enrugada, posso usar o dinheiro que acumulei na troca do meu esforço em determinado serviço prestado por algum tempo, por uma intervenção cirúrgica, uma cirurgia plástica… alguém que por muitos anos de sua vida estudou minuciosamente determinadas características comuns do corpo humano sobrevive realizando alterações no corpo de pessoas, mediante troca por dinheiro.

Com isso, a pessoa que fez a troca de seu dinheiro por uma intervenção em seu corpo, que a deixou com aparência mais jovial, imagina-se feliz… como se mais um “problema” seu tivesse sido resolvido [e agora sendo melhor aceita pelos outros]. Mas é claro que não acabou, outros “problemas” virão pois, como disse, a vida segue nos levando num fluxo que nem sempre sabemos qual é e, portanto, torna-se imprevisível… a segurança de se estar jovem em breve sairá de cena, demonstrando mais uma vez a Verdade…

Nesses momentos de Revelação que todos nós temos existe a oportunidade de nos encorajar para seguir um novo caminho… é o momento em que não há nada obscurecendo nossa visão interna… como a vida é generosa conosco!

Voltando ao “poder de troca” que é o nosso dinheiro… venho pensando que é capaz de destruir relações entre pessoas pois ele está numa outra dimensão, ou realidade… projetamos o dinheiro para o final do mês, para uma viagem planejada para determinado dia do ano, para as compras diárias, as contas de consumo que “pagamos” a cada dia…

Esse tempo nos coloca num outro ritmo e num outro ciclo… um ritmo acelerado para cumprir demandas alheias e ansioso pela recompensa (o dinheiro) e num ciclo bem diferente do da vida natural (do ser humano, das plantas, da Terra, dos animais…).

E por isso não tem dado certo… por isso vivemos em conflito, em meio ao lixo, à doenças físicas e psíquicas… porque estamos desalinhados do tempo natural do mundo… estamos ainda com um certo medo de perceber a sua incrível perfeição e de nos entregar a Ele sem medo, com confiança.

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