[escrito há cerca de 5 anos]
Desce as escadas feliz.
Hoje foi mais um dia de trabalho em seu escritório.
Sente-se bem pois, através de seu trabalho proporcionou bem-estar aos seus pacientes, a diversas pessoas.
Neste dia, em meio às ações rotineiras de um dentista, momentos de descontração durante as consultas.
Feliz por ver a evolução dos tratamentos. Tratamentos que ele conduziu.
Resultado de anos de estudo, prática…
Desce as escadas.
Já é noite.
Por um instante passa pela sua cabeça um certo pensamento.
Vem meio involuntário e logo pensa: “Podia não ter pensado nisso e ficaria melhor”.
Pensou no sentido de seu dia. De sua rotina.
“Vou ver meus filhos agora”, tinha pensado segundos antes de descer as escadas.
Ele vai ver seus filhos.
Tratou de uma pessoa da qual não sabe muito, com a qual não encontrou afinidades.
E pensava, enquanto estava com ela: “Pelo menos não me dá calote”.
Ganhou virtualmente o dinheiro do seu dia.
O dinheiro merecido, em troca da prestação de seu serviço; da aplicação prática de tudo aquilo que a vida inteira estudou para fazer da melhor maneira.
Esse dinheiro – que são números e papéis – se transforma no poder de ter aquilo que se quer. Magicamente, ele vê números transformando-se em objetos atraentes, úteis, em momentos de histeria num parque de diversões com seus filhos ou de carinho e contato físico com sua esposa… em alimentos, dos mais variados…
Muito desse papel se transforma apenas em uma leva de coisas que nem ele sabe porque “precisa”.
Se transforma na manutenção de hábitos… hábitos que adquiriu ao longo de sua vida, seja de sua família, de seus amigos, da escola, da Igreja…
Descendo os degraus nessa alegria momentânea, numa noite especial,
ele percebeu que vive num ciclo sem sentido.
Por dentro, chora muito… quase se desespera. Mas não pode demonstrar.
Não, porque são sentimentos que aprendeu a vida toda que deveria esconder dos outros… talvez tenha aprendido que nem devesse ter esses sentimentos.
Se escondeu em si mesmo.
Mas não vai ser por muito tempo.
Porque a partir desse instante ele abriu uma nova porta.
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