As artes de tolerar e de acomodar

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Rama e Hanuman
Representação da divindade Rama e seu fiel devoto Hanuman (humano com feições de macaco). Rama representa Deus, o ser que distribui amor incondicionalmente a todos. Hanuman representa a alma humana que se diviniza ao manter-se fiel à Verdade e à Pureza divinas.

Tenho trabalhado em mim, ultimamente, duas capacidades: a de tolerar e a de acomodar cenas, personalidades e até mesmo pensamentos.

É possível que cada um de nós tenhamos algumas ideias formadas do que seja bom ou ruim, do que seja certo ou errado. Esse senso pode não ter um fundo muito lógico, mas sim um fundo emocional, sensitivo… como um achismo apelidado de intuição.

Munidos da armadura do “eu estou certo de que isto é o melhor” ou “eu sei” e até mesmo de que “a lei diz que é assim ou assado”, nem percebemos o quanto limitamos a nós mesmos em ver as cenas por um outro ângulo, de considerar outros tantos fatores que, nos “bastidores”, sustentaram aqueles acontecimentos, ou que influenciaram o comportamento de alguém.

A partir então, de uma visão limitada e um pouco enganosa a meu próprio respeito (achando que eu sei o que está certo e ponto, por exemplo) a atitude mais comum é fazer um julgamento imediato diante da cena e criticar, rejeitar, chegando ao ponto de criar repulsa, medo ou ódio. Estas reações imediatas podem ou não se tornar visíveis: posso falar algo, expressar através do olhar, pode haver agressão física, ou tudo pode permanecer em minha mente na forma de pensamentos tumultuados, negativos e inúteis.

No entanto, sabemos que as reações acima trazem mal-estar e desconforto. A reação imediata tende a vir carregada com a energia que está circulando no interior da mente naquele momento: se estou descuidado com relação aos meus pensamentos e sentimentos, deixando-os ir em qualquer direção, minhas reações tenderão a ser descontroladas, carregadas de emoção e muitas vezes poderão gerar arrependimentos e dor. Por outro lado, se cultivo constantemente pensamentos e sentimentos positivos, conseguirei a estabilidade interior necessária para agir adequadamente diante de cenas inesperadas.

Uma capacidade que percebi que tinha de melhorar muito é a de tolerar certas situações. Não se trata simplesmente de engolir a seco, mas de desenvolver uma visão ampla que leve em conta as circunstâncias que levaram àqueles acontecimentos. Um exemplo: alguém não te cumprimenta, não conversa de forma simpática com você… certamente que pode haver inúmeros motivos para essa atitude, mas não faz sentido que se dedique muito tempo a pensar nessas razões, mesmo porque nunca se terá certeza se é isto mesmo. A melhor maneira de passar por isso é dizer a si mesmo: “bom, algo deve ter acontecido a esta pessoa, há motivos que somente ela sabe, desejo que fique bem logo” e ponto final.

Ou seja, não gastei tempo pensando muito nas causas e muito menos reagi de forma grosseira com a pessoa. Apenas passei pela cena, imune, equilibrado. Soube usar de meu poder interior de tolerar.
O outro poder que mencionei é o de acomodar. Acomodar diferenças de gostos, opiniões, comportamentos, decisões…

Acomodar, ao meu ver, significa acolher as situações que a princípio podemos discordar, rejeitar e julgar negativamente, como se fosse algo que eu não quero próximo a mim. Seria como dar uma lição a si mesmo, igual os pais fazem com filhos pequenos ao dizerem para ele: “peça desculpas por ter dito estas palavras feias a tal pessoa” e a criança então diz forçadamente e depois de insistir mais algumas vezes ela percebe o erro e pede desculpas com mais sinceridade.

Então, acomodar significa ter um estoque tão grande de amor que ele torna a alma capaz de não olhar mais para os pontos fracos e sim para a completude da cena, ou da pessoa a sua frente, ressaltando todos os seus potenciais, compreendendo suas dificuldades, enfim, a amplitude da situação, assim acolhendo-as e não brigando com elas ou questionando suas existências.

Exercitar este poder traz uma experiência do seu eu verdadeiro, capaz de agir espiritualmente, abnegadamente, e não mais com um olhar limitado.

Traz paz interior e desperta amorosidade em si mesmo e nos outros. Transmuta energia negativa em positiva…

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