ver ou não ver? personagens “invisíveis”

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toda de preto
um carrinho com várias maletas empilhadas
bengala
coque no cabelo branco

uma senhora
bem magra
todo dia no mesmo horário
chega até o ponto de ônibus
aguarda, silenciosa, entra, silenciosa

anos depois
a mesma
em outro lugar
sentada
em frente a uma loja desativada
o carrinho
as malas.

—–

cada ônibus que passa
o faz mover-se
a fim de verificar
se é o que irá levá-lo…

muitas sacolas
um terno escuro
silêncio
uma face expressiva
um olhar parado

muitos e muitos e muitos minutos
se passam
muitos e muitos e muitos ônibus
passam
e ele
ali permanece.

—–

sempre de pé
encostado em uma parede de bar
de frente a banca de jornal
a tudo observa
a nada observa.

nada diz
nada pede
apenas ali está.

rosto inchado
olhos cansados
dias duros.

—-

ao lado do ponto de táxi
na mureta do jardim de um banco

montanhas de sacolas de supermercado
um olhar atento e curioso
mas com medo de ser vista

fala um pouco consigo
varre a calçada
dorme entre as plantas, escondida de alguém,
escondida de quem?

—-

sempre ali
no mesmo degrau
em frente a uma porta

olhos fortes
olhar baixo

a criança que o olha
com curiosidade,
pureza
o fita,
olho no olho
e o vê.

—-

está sempre ali
com uma “casa” de papel
sentado
falando
falando, falando, falando
sem parar
com quem?
consigo ou com alguém?

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