Silenciar para acessar o coração

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Introdução

O coração é o órgão físico responsável por bombear o sangue para todo o corpo. Através de suas batidas ritmadas sabemos se alguém está vivo e também o seu estado emocional.

Um dos significados mais associados ao símbolo do coração é o amor. No entanto, gostaria de trazer aqui um significado mais amplo ao coração, que inclui o amor, mas não se limita a ele.

Recentemente ouvi em uma aula do curso de aprofundamento em Raja Yoga que “o coração é a alma”, e a partir daí fiquei pensando sobre isso… que o coração é para o corpo o que a alma é para o ser humano: essencial, a fonte de vida.

“O coração é a alma.”

A alma é a energia consciente que possibilita que haja vida no corpo. Sem alma não há vida para o corpo.

A alma possui qualidades e, se estou consciente de ser uma alma, essas qualidades podem se expressar em minha vida. Se me esqueço disto e penso que sou o corpo, as qualidades ficam então encobertas, até mesmo soterradas.

Usamos algumas expressões como “falar com o coração”, “isso tocou meu coração”… querendo dizer que há uma sintonia profunda com as palavras e nossa experiência interior. Poderiamos facilmente substituir a palavra coração por alma, e veríamos o mesmo sentido.

O coração físico demonstra através do ritmo de suas batidas se há um nervosismo, medo, ou entusiasmo em nossas emoções e sentimentos. Do mesmo modo, ao observarmos com honestidade o nosso “coração espiritual”, ele funcionará como um espelho e refletirá as nossas atitudes positivas e negativas, a luz e a sombra de nossos pensamentos e sentimentos.

Corações partidos

Na jornada em que percorremos no mundo, o nosso ser, o nosso “coração”, pouco a pouco foi se partindo em diversos pedacinhos.

Isso aconteceu gradualmente a cada vez que, movidos por uma ilusão e um desejo, procuramos preencher os nossos vazios internos com aquisições “de fora”, por exemplo: através de estar na companhia de uma ou outra pessoa, através de possuir objetos e outros bens materiais, através de confundir nosso autorrespeito com o status profissional, financeiro ou de acesso ao estudo.

Falta de clareza e de senso de direção

Neste longo processo de tornarmos comum o hábito de nos preenchermos com o que é de fora, fomos deixando de ouvir nossa “voz interior” de sabedoria e passando a dar respostas instantâneas às situações de acordo com nosso humor naquele momento, sem fazer uma reflexão prévia.

Misturamos àquela voz pura interior muitas outras “vozes”: a dos desejos, a de querer agradar aos outros para ser melhor aceito socialmente, a do medo de ser diferente, a de querer parecer sempre certo…

Abarrotamos nosso coração

Substituímos cada pequena oportunidade de silêncio e aprofundamento por algum tipo de ação ou palavra. Por exemplo, desde que o celular se tornou um aparelho comum em nossas vidas, em vez de apreciarmos a paisagem ou mesmo descansarmos, vamos atrás de informações, vídeos, criamos muitos diálogos…

Acredito que essas ações provisórias que integramos em nossas rotinas refletem certa inabilidade, ou medo, de darmos uma pausa, ficarmos em silêncio e de apenas nos observar… após um longo tempo de existência neste mundo, nos esvaziamos muito por dentro. Acredito que temos certo medo de nos deparar com esses vazios.

O silêncio é a via para acessar o coração.

O silêncio interior, quando bem conduzido por nós mesmos, funciona como um caminho que se pode percorrer rumo à origem do “eu”, a alma.

Nesse percurso, conseguimos apreciar a paisagem interior, conseguimos ouvir e dialogar sinceramente conosco mesmos, acalmar emoções e então ver com clareza as direções que devemos ou que não devemos tomar.

Se não conduzimos a mente, deixando-a simplesmente vagar em muitas direções, estaremos gastando energia, como alguém que se vê perdido em um lugar desconhecido ou que se percebe caminhando em círculos em um labirinto.

Na verdade, a alma já tem tudo em si, só precisa se soltar dos muitos apegos a que foi se agarrando com o tempo, como aos pontos de vista “engessados”, a dependência a outras pessoas e a memórias de situações do passado que se sobrepõem à percepção do momento presente.

Se quiser ler uma experiência real que vivi com relação ao que o silêncio é capaz de proporcionar em nossa percepção, leia este post: olhar e sentir

O “esforço” mesmo é ir para dentro…

Precisamos de mais pausas, de mais silêncio e experimentar aquilo que já temos no sentido espiritual, como amor, paz e felicidade. Ao nos encontrarmos com essa fonte interior e ao fazermos uso do que ela nos oferece, a energia correspondente é movimentada e se expande. Tudo o que então precisarmos, virá ao nosso encontro, sem muito esforço.

Me lembrei de um episódio quando eu tinha uns nove anos de idade. Fui com meus avós a uma galeria de compras bastante movimentada e ao chegarmos ao local, combinamos um ponto de encontro para o caso de nos perdermos um do outro (naquela época não havia celular para nos comunicarmos).

De fato, em um momento me perdi deles, entrei e saí de algumas lojas, sem conseguir encontrá-los. Então, segui ao ponto de encontro e me sentei em um banco, ao lado de uma senhora e ficamos conversando.

Após algum tempo meus avós me encontraram ali sentada e tranquila, e ficaram aliviados.

A meditação é como se marcássemos um ponto de encontro conosco, com nosso coração, com nosso ser. Nos leva a economizar tempo, pensamentos, energia, para clarear melhor nossas ideias, escolhas e próximos passos…

Ao organizarmos a energia de dentro, os recursos de fora aparecerão como presentes, nos auxiliando a seguir em frente.

Uma conversa de coração a Coração

Na Índia existem ao menos dois títulos (que eu conheço) para se referir a Deus: Dilwara e Dilaram.

Dil significa coração, em hindi.

Dilwara significa Conquistador de Corações. Há inclusive templos maravilhosos dos jainistas com este título.

Dilaram significa Confortador de Corações.

Ao acessarmos a nossa verdade original, com pureza nos sentimentos e nas ações, podemos acessar também a companhia de Deus.

Para mim é como sentir que Deus está ao meu lado e que pode captar meu momento, meus sentimentos… além do mais, Ele, ser tão puro e Benevolente que é, em silêncio me doa Sua energia curativa e preenchedora.

Essa conversa silenciosa e honesta com Deus, de coração a Coração, é a meditação mais profunda que podemos ter… torna-se mais fácil reconhecer nossos erros e tomarmos força para viver de um modo mais elevado.

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