um ato de violência é uma violação de e para si mesmo.

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Estou passando alguns dias na casa do meu pai, que vive em uma pequena cidade do litoral sul de São Paulo. Como não é feriado, a cidade está bem tranquila.

Moro em São Paulo e não tenho mais o costume de assistir TV. Há mais ou menos 10 anos deixei de ter interesse por qualquer coisa que passe na televisão.

Mas aqui, por ela estar a maior parte do tempo ligada, não tem como não ver. E quase sempre é algum documentário.

Bem, o de hoje foi sobre Terrorismo no mundo.

Confesso, também não costumo ler notícias do mundo, então fico sabendo dos acontecimentos principais quando passam a ser comentados nas redes sociais e por pessoas próximas. Sobre o Terrorismo, não tinha uma noção muito clara de como é “organizado” e como acontece.

Hoje realmente parei o que estava fazendo e me sentei no sofá só para assistir. Pude saber mais sobre um grupo de terrorismo que atua no Oriente Médio e faz uso de uma tática extremamente astuta para “recrutar” seguidores ao redor do globo. Este grupo possui líderes que fazem uso de citações de uma escritura religiosa para justificar atos extremamente cruéis e violentos sobre aqueles que não “seguem” o que esta escritura “orienta”.

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Ao se autodenominarem “guerreiros santos”, e por isso, “protegidos por Deus”, “justiceiros”, veem a si mesmos como aqueles que estão para criar a ordem no mundo, ou criar um novo tipo de mundo… mas como eles fazem isto? Da maneira mais moderna, fazendo uso da propaganda, com vídeos de qualidade profissional e também das redes sociais.

Através de filmarem seus atos terroristas extremamente cruéis e divulgarem-nos nas redes sociais como sendo atos que levarão ao estabelecimento de um “Estado de Deus”, eles utilizam  armadilhas ideológicas para atrair outros que vivem ao redor do mundo sentindo-se incompreendidos pela sociedade ocidental devido a suas origens e religião, a maior parte jovens. Essas pessoas então viajam para lá e passam a ser treinadas em seus “exércitos”. Depois, retornam aos países ocidentais nos quais viviam, com a missão incógnita de cumprir seu papel de “guerreiros santos”. Assim se originaram muitos dos ataques terroristas que temos visto nos países europeus e americanos nos últimos anos.

main-qimg-04350c5d9127aef515e17234d4226757-cObservar a tamanha frieza com a qual essas pessoas atuam e a enorme influência que exercem em outros, que futuramente se integram a eles, traz uma reflexão muito profunda de como o ser humano pode chegar a tal nível de violência e ignorância. Sem dúvida associei ao modo como Hitler atuava, fazendo uso dos discursos por rádio e também da propaganda massiva.

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Cartaz com propaganda nazista.

Uma guerra, para acontecer, precisa de muitos e, para isso, faz uso de todos os meios de comunicação para distorcer conceitos sobre o certo/errado e, assim, criar algum tipo de “paixão” ideológica que atraia novos membros e mantenha o exército unido e forte. O ser humano internamente busca a verdade e a ordem, busca uma vida feliz e justa. Mas o que temos visto é que aqueles que chegam a um extremo de infelicidade seguem o caminho dos extremos, almejam estabelecer a ordem, mas fazem uso do caos, buscam alcançar felicidade e paz, mas através da força física e de armas, visualizam a liberdade, mas através de causar medo e de violar a expressão dos outros.

O que acontece dentro do ser humano para fazê-lo crer que ao seguir um percurso de maldade um dia alcance a felicidade, a paz ou a Deus?

Ignorância e violência

Primeiro a ignorância completa. A falta de realização espiritual. A ausência de expressão de valores positivos. A alma completamente obscurecida por trevas, por ódio. A alma humana que já não se percebe como alma, como ser espiritual e bom. A alma passa a só se ver e a ver aos outros sob um olhar físico, materialista.

Através de constantemente ter sua atenção voltada ao externo, a alma passa se ver como membro de um ou outro país, como sendo um determinado personagem no mundo baseada em características físicas. A alma deixa de ser contente consigo e passa a exigir que o mundo todo a aceite, mas ela mesma não aceita a ninguém.

Atrelada à ignorância de si próprio está a violência. Violência significa atos de violação, ou seja, atos que ultrapassam uma lei, um limite, que impedem que algo siga seu próprio caminho. Mas veja só, violar a alguém é, antes de mais nada, violar a si mesmo.

Por quê? Aquele que faz uso da força – seja corporal, verbal ou mental/ideológica – para estabelecer, aplicar ou mesmo para fazer provar aos outros algo que acredite ser o certo, está desacreditando no poder natural da Verdade, está se privando de naquele momento expressar o que realmente acredita.

Exemplo: se eu resolver fazer uso da força física para proteger um território (considerado “meu”) onde considero que posso viver em liberdade, paz e felicidade com (“minha”) família, com (“minha”) nação, estou, eu mesmo ultrapassando o limite espiritual da minha atuação pacífica, livre e feliz no mundo. Estou eu mesmo anulando o princípio espiritual de que cada ser tem suas próprias escolhas e de que é independente um do outro, de que cada ser é responsável por todas as suas ações e que receberá o retorno por cada uma delas.

Ao considerar que algo ou que alguém me pertence, eu mesmo estou agindo em uma consciência de baixa qualidade, mais próxima de um nível físico, não mais no espiritual. Eu mesmo ultrapassei o limite que me protegia da violência alheia.

A Lei do retorno espiritual

Na verdade, a violência que “vem de fora”, experimentada através das ações de uma pessoa ou de um grupo, pode ser considerada uma retaliação, ou um retorno, por um passo que dei além do meu próprio limite espiritual, aquele que precisamente define até onde uma ação é pura e até onde é impura. Ou seja, eu violei a lei espiritual e então recebo o retorno disto de alguma maneira.

Isso é forte e talvez difícil de aceitar ou compreender. Para mim venho aceitando e compreendendo isso ao me examinar internamente com muita honestidade.

Vou percebendo que os acontecimentos em minha vida que eu julgaria como “fortes”, injustos ou violentos, na verdade tiveram conexão com um desvio de conduta meu. Com escolhas feitas anteriormente, desconsiderando os meus próprios valores espirituais.

O que vemos como ápice de violência hoje no mundo só pode se explicar assim, através de um olhar sobre si mesmo, baseado em conhecimento espiritual. Não disse religioso, de acordo com uma ou outra escritura religiosa, mas espiritual, olhando com honestidade para si mesmo, verificando as causas de consequências das próprias ações. O nome é bem conhecido até: Lei do Karma. Essa lei espiritual de equilíbrio não falha nunca.

O que quer que pensamos, dizemos ou fazemos gera algum tipo de impacto, de reverberação ao redor, nos outros, no mundo. E essa energia vai voltar um dia, para restabelecer o equilíbrio, para neutralizar o impacto daquela ação. Isso pode acontecer imediatamente após a ação, ou algum tempo depois, ou algumas vidas depois.

Unmask-HubpileVivemos no mundo o auge da energia negativa. Só que ela ainda está muito mascarada. As “propagandas” que fazemos de nós mesmos – os nossos “selfies de personalidade” – mascaram o que sentimos de verdade, no nosso íntimo. Essas maquiagens criam a imagem de uma falsa vida feliz e próspera. A hora em que a maquiagem da humanidade sair por completo teremos um grande choque.

Muitos de nós somos capazes de perceber a maquiagem se desfazendo, outros ainda estão muito ocupados em se maquiar e continuar escondendo o vazio espiritual.

A Idade da Confluência

Esse é um momento especial e único na história humana no qual estamos sendo convocados, um a um, a retirar as camadas de maquiagem de muito tempo e olhar a “face” interior no espelho da honestidade consigo. Queiramos ou não, os espelhos estão sendo colocados a nossa frente.

O Ciclo do Tempo. Brahma Kumaris.

De acordo com a filosofia Raja Yoga ensinada na Brahma Kumaris, estamos em um momento de extrema transição de valores, da completa materialidade à completa espiritualidade. Um momento único chamado Idade da Confluência.

Essa transição é por um período relativamente curto, se comparado à história geral da humanidade, mas conta com uma ajuda que é capaz de acelerar nosso processo de elevação. A ajuda divina.

Para isso precisamos retornar ao nosso “eu neutro”, não-violento, completamente pacífico, através de pensamentos, palavras e ações alinhados. Precisamos nos colocar como seres de luz que viemos percorrer uma jornada temporária neste mundo físico, reconhecer que não somos donos de nada, mas visitantes, turistas de um mundo que não é o nosso próprio.

Fortalecendo essa autorrealização espiritual nos alinhamos mais e mais à consciência pura de Deus, que é considerado Pai, Criador, Salvador, Provedor pelos seres humanos de todo o mundo. Essa visão de fraternidade universal será único meio de restabelecer a paz interior e a paz ao redor.

Não parece sensato que eu exija a paz dos outros ou que busque estabelecê-la à força.

A paz começa em mim, e ponto.

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